NOVO CORONAVÍRUS


As bibliotecas públicas do
Sistema Municipal, incluindo o Ônibus da Cultura, permanecerão fechados por
tempo indeterminado.
A
Prefeitura de São Paulo adotou novas medidas para evitar a proliferação do
coronavírus (Covid-19) na cidade. Entres elas, estão o
cancelamento de eventos do poder público, alvarás e autorizações emitidas para
eventos privados que gerem qualquer tipo de aglomeração, além do fechamento de
todos os equipamentos culturais municipais como Casas de Cultura, Teatros,
Centros Culturais, Bibliotecas e as Salas de Cinema do Circuito SP Cine por
tempo indeterminado.
Outras
informações sobre as medidas anunciadas, acesse http://www.capital.sp.gov.br/noticia/prefeitura-de-sao-paulo-anuncia-novas-medidas-para-evitar-a-proliferacao-do-covid-19-e-garantir-atendimento-medico



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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Como (não) formar leitor: opinião de Adriano Messias sobre esse texto de Zeunir Ventura.

LEITURA EM FOCO:

No final de cada postagem, de nosso blog, colocamos a legenda Ônibus-Biblioteca: onde se lê por prazer. É uma simpática maneira encontrada para caracterizar o ambiente descontraído de um ônibus, sem aquela cobrança pelo que foi lido, prática normal em ambiente escolar. E é justamente nos bancos escolares que os autores, considerados clássicos, nos são apresentados ou melhor impostos, o que pode não agradar a muitos leitores iniciantes.

No texto abaixo, Zeunir Ventura discorre sobre essa fase escolar. A seguir, reproduzimos o texto em que o escritor Adriano Messias opina, com muita propriedade, a respeito desse assunto tão recorrente.  O mais interessante nesse confronto de textos é observarmos que os dois se complementam, além, é claro, de colocarem a Leitura em Foco, lugar de onde ela nunca deveria sair, concordam? Vamos aos textos...


OPNIÃO


Como (não) formar leitor

ZUENIR VENTURA

Por que o brasileiro só lê um livro por ano, enquanto o americano e o europeu leem sete, oito vezes mais? Por que existem no país mais de 70 milhões de pessoas que não leem? Há várias respostas para explicar o fenômeno: baixo nível cultural de um povo com 21 milhões de analfabetos, poder aquisitivo insuficiente, falta de hábito, concorrência da televisão e da internet. Esta semana tomei conhecimento de outro fator, que é mais grave do que os outros, pois deveria ser instrumento de atração de leitores e é, ao contrário, de afastamento. Refiro-me ao aprendizado da leitura nas escolas de nível médio.

Um amigo, pai de um aluno do segundo ano, adolescente, mandou-me uma lista dos livros que o filho deverá ler neste semestre. Quem sabe eu não teria um ou outro para emprestar? Não vou citar a relação completa para não entediá-los. Eis alguns: "Senhora" e "Iracema", de José de Alencar; "O cortiço", de Aluisio de Azevedo; "Memórias de um sargento de milícias", de Manoel Antonio de Almeida; "Recordações do escrivão Isaías Caminha", de Lima Barreto; "Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis; "Memórias sentimentais de João Miramar", de Oswald de Andrade (esqueci de perguntar se o curso era de memorialística).

Não vou entrar no mérito de uma seleção que mistura um clássico como "Brás Cubas" com obras de discutível qualidade estética ou literariamente datadas, como "Senhora" e "Iracema". O que eu me pergunto é se a melhor maneira de iniciar um jovem na leitura é forçando-o, por exemplo, a digerir a história de amor da índiazinha virgem dos cabelos negros, se hoje até o ministro Edison Lobão tem os seus "mais negros do que a asa da graúna". Experimente tirar seu filho da frente do computador oferecendo-lhe um texto assim:

"Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do guará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome."

Antes que me acusem de desprezar estilos e valores de época, esclareço que implico é com essa maneira inadequada de se levar um aluno de 15, 16 anos ao prazer da leitura. Comigo, no ginásio, me fizeram odiar os Lusíadas ao me obrigarem a "análises lógicas" em que eu deveria procurar o sujeito oculto de uma frase, como se fosse um detetive. Só mais tarde, na faculdade, e graças à professora Cleonice Berardinelli, descobri a beleza que havia no magistral épico de Camões. Para o gosto de um jovem de hoje, diante de tantos apelos audiovisuais, não seria mais palatável, como começo de conversa, um Rubem Braga ou um Fernando Sabino?

Texto publicado no Jornal  O Globo, de 10 de fevereiro de 2010.

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Depois de ter lido o texto acima, veja se concorda comigo...

Vou em defesa de "Iracema", "Senhora" e dos outros livros... mas concordo com o raciocínio geral do Zuenir. Sim, acho que os alunos do ensino médio não têm preparo para digerirem, por si mesmos, os livros mencionados. Eles precisam de orientação do professor, de estímulo, de muitos elementos que ajudem a tornar a leitura dos títulos citados uma leitura prazerosa. Do contrário, sairão odiando os autores, a disciplina Literatura (aversão esta bastante comum) e o professor. E, dali em diante, os estragos podem ser irreparáveis: o preconceito contra a literatura nacional pode ser tamanho que jamais ousarão pegar outro de nossos clássicos.

A escola não consegue concorrer com computador, internet, jogos virtuais, cinema em 3D, viagens para o exterior. Isso é verdade (pelo menos para a classe média, média alta e alta). E, ainda por cima, conteúdos são despejados de maneira desconexa sobre os alunos, esperando que eles façam o melhor percurso possível...

Mas daí a desqualificar os livros citados, sobretudo os de José de Alencar, não acho justo. "Senhora" e "Iracema" são excelentes exemplares de dois momentos do grande autor cearense: o romance social urbano e o romance indianista. Há talento refletido em ambas as obras. Há estilo, há pesquisa, há reflexos de uma época. O que não se pode é reduzi-las aos quadros de análise histórica e estilística dos estilos de época - uma forma que engessa toda possibilidade de fruição do prazer da leitura.

Está aí um desafio e tanto aos professores e à escola: o que fazer com a literatura brasileira e como estimular a meninada à leitura...

Adriano Messias - Escritor, tradutor e adaptador. Fez graduação em letras, jornalismo e concluiu mestrado em comunicação. Dentre seus livros voltados para crianças e jovens, estão: A Vaca Fotógrafa (Positivo), Que bicho está no verso? (Positivo), Telefante sem fio (Positivo); Histórias mal-assombradas em volta do fogão de lenha; Histórias mal-assombradas do tempo da escravidão, Histórias mal-assombradas de um espírito da floresta, Histórias mal-assombradas do Caminho Velho de São Paulo (Biruta), O Elefante Infante (da obra de Rudyard Kipling) (Musa), Antes de Colombo chegar/ Antes de la llegada de Colón (Alis), Minha tia faz doce no tacho (Cuca Fresca), 20 Histórias de Bichos do Brasil (Cuca Fresca), O mestre cuca fresca: receitas divertidas para gente feliz (Cuca Fresca). Contatos com o autor podem ser feitos pelo email: adrianoescritor@yahoo.com.br ou pelo blog:


E para conhecer bem mais sobre vida e obra de Zeunir Ventura, jornalista, escritor, autor do genial livro 1968: o ano que não terminou, acesse:


Até a próxima parada!!!
Ônibus-Biblioteca: onde se lê por prazer.

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