Fotos: Luciana / Texto: Cia dos Bardos
São Miguel Paulista. Quinta-feira, dia 07 de novembro. O céu nublado e alguns pontos de chuva na cidade lançam dúvidas no ar. Será possível estrear a peça? E se chover? Os funcionários do ônibus biblioteca nos recepcionam sorridentes.
- Bem, onde está o camarim?
Brincadeira. Todos estão conscientes de que o glamour e a privacidade disponíveis em muitos teatros passam bem longe das condições encontradas por aqueles que se propõem a levar o teatro para as ruas, nos bairros distantes, nas comunidades. As paredes não existem, o teto é o céu, o sol o técnico de iluminação. Ao lado do ônibus biblioteca descobrimos uma escola. Um rápido contato com a diretora e os professores trazem como resultado uma platéia de pequenos infantes, cadeiras são dispostas na calçada e detrás delas a cerca da escola onde um grupo enorme de crianças que não foram liberadas para a apresentação espremem os narizinhos excitadamente contra os vãos da cerca. Os atores avisam o respeitadíssimo público que irão fazer um barulhento cortejo pelas redondezas do ônibus para avisar os moradores que em breve uma peça de teatro musical vai iniciar. Pouco tempo depois eles retornam seguidos de mais um pequeno grupo de adultos e crianças que informados sobre o evento, se juntam ao público.
A peça tem início e em pouco tempo a magia da Arte se estabelece. As crianças acompanham as aventuras de dois marujos que fugiram do navio pirata em busca do tesouro representado pelos livros batendo palmas, soltando gritinhos excitados e fazendo alvoroço quando o capitão entra na peça com seus trejeitos e figurino colorido. Um novo olhar sobre o espaço entre a calçada, o público e o ônibus biblioteca e já não é mais possível distinguir fantasia da realidade. O público se transformou num grupo de pequenos piratas ansioso por desvendar os tesouros que os livros encerram, o ônibus se transformou na caverna dos tesouros e o elenco os condutores do público numa viagem que descortina autores como Guimarães Rosa, Monteiro Lobato e Jorge Amado.
O espetáculo se encerra, o público se retira com um gostinho de quero mais no rosto, o elenco se abraça satisfeito por ter alimentado a esperança, a possibilidade de ter levado a Arte aonde ela precisa ir, mas muitas vezes não sabe como…
Até a próxima parada!
Ônibus-biblioteca: a Leitura em movimento
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