A terceira água
Lá, vai a moça
A caminho do rio
Na cabeça, a trouxa
E no ventre, um filho.
Também vai a velha
A caminho do rio
Na cabeça, a trouxa
E na alma, o frio.
E com elas, a menina
A caminho do rio
Na cabeça, a trouxa
E no olhar, um brilho.
Sob o sol, lá vão as três
A moça é Branca,
A velha Santa
E a linda Inês.
Branca é mãe solteira
Mal falada no lugar
Assim, sem eira nem beira
Vive só, a lamentar.
Santa é do pau-ôco
Que animou cabarés
Do fogo, sobrou pouco
Nem um homem a seus pés.
Inês bem mais esperta
Quer futuro promissor
Trocar a trouxa de roupa
Por um rico senhor.
Quando Branca pisa n'água
O rio claro escurece
Traz tanta mágoa, coitada!
Seu canto parece prece.
Quando Santa pisa n'água
O rio também escurece
Foi tão doído ter sido usada
Que na velhice, seu canto não esquece.
Já quando Inês pisa n'água
O mesmo rio sorri
Há tanta vida nela, que graça!
Seu canto diz bem-te-vi.
Três vidas, seus cantos, e um rio
Inês brilho, Santa dor, Branca mágoa
Lavadeiras que esfregam o destino
E se purificam na terceira água.
João Batista de Assis Neto
Bibliotecário (Ônibus-Biblioteca)
Roteiros da Zona Sul
Sem sentido
Baseando-me na velocidade do cometa Halley
Equiparo seu diâmetro à hipotenuza
Dispersada de dois catetos
Tangente, em terra, estou elevado ao quadrado.
Já ao cubo, a mente obtusa sobe e concatena-se
Com a brilhante estrela do mar, ao desaguar
Nos oceanos da bissetriz coagulada.
No infinito, meus órgãos fragmentam-se
Pela sucção molecular do diafrágma
Enquanto o ar me falta, calo-me
E tento vomitar o que não vivi.
Já pó, entro em erupção
Dos cacos formo o todo, incompleto? Sim
Mas com o mesmo destino: apenas viver!
João Batista de Assis Neto
Bibliotecário (Ônibus-Biblioteca)
Roteiros da Zona Sul
Os ônibus Biblioteca
ResponderExcluirEstão aí pra ajudar
No incentivo a leitura
Buscando um novo olhar,
O meu cordel tem altura
Por isso viva a cultura
E a arte popular.